quinta-feira, 21 de julho de 2011

Caderno de historias ,para sonhar







O sovina e os oportunistas


Em uma cidade pequena do interior havia uma imensa rocha, praticamente intransponível e ao redor dessa pedra existiam muitas outras, menores, médias e até bem grandes. Certa feita, um homem muito rico e sovina planejou esconder no topo dos pontiagudos rochedos toda a sua fortuna.Dessa forma, ele não teria que dividi-la com seus filhos e netos.
Então o homem começou a escalar pelos sinuosos caminhos e, com isso, acabou despertando a curiosidade de quem estava passando, algumas pessoas paravam tentando entender o que o conhecido senhor tentava fazer. A multidão só ia aumentando e com muita dificuldade o velho puxava suas sacolas de dinheiro, cheques milionários e outros títulos. No entanto, em meio a tamanha dificuldade acabou por deixar uma nota de 100 escapulir. A pequena e amassada nota foi flutuando até chegar ao chão. Toda gente da cidade se amontoou querendo saber o que era o tal papel que veio do céu.
Um ambicioso rapaz pegou o papel amassado e gritou: É uma nota de 100!
Rapidamente as pessoas do minúsculo povoado se deram conta de que o velho avarento estava levando sue dinheiro para o alto do arriscado rochedo. Ele ao perceber que uma de suas notas havia caído, também, se deu conta que o povo começou a cobiçar suas posses. Em uma atitude desesperada ele começou a empurrar as pedras que encontrava pelo caminho, buscando colocar entraves para os que vinham subindo. Devido ao desespero a maioria dos ambiciosos oportunistas acabou caindo e rolando pelas agudas rochas até a morte.
Cansado, porém vitorioso, o mesquinho senhor chegou a cume. Sorriu para os que estavam lá em baixo em tom de zombaria. Todavia, quando ele olhou para trás, se deu conta de que todo caminho estava interrompido, não havia como voltar. Vendo que seus bens estavam seguros, intocáveis, resolveu pular do ápice da montanha. Juntou-se aos demais ambiciosos
Contudo, um dos aproveitadores havia conseguido sobreviver, ele usava os corpos dos mortos para subir com mais facilidade. Assim, ele não se machucava, uma vez que aproveitava os outros caídos para chegar até o topo. Aos poucos conseguiu alcançar o dinheiro que o homem tentou incansavelmente esconder. Pegou sacos e mais sacos abriu um por um e para mostrar onde havia chegado jogou muitas notas pelos ares.
As pessoas o aplaudiam pelo extraordinário feito, ele rodopiava de felicidade, estava orgulhoso, agora ele mandaria na cidade, mataria todos os que um dia o humilharam, envergonharia até os mais abastados, seria o novo dono do mundo. Entretanto, quando o rapaz abriu mais um saco de notas chegou à beira da rocha e jogou ele, também tropeçou na última pedra que o velho sovina havia deixado. O breve sortudo caiu, e foi rolando pelas pedras. Teve o mesmo destino que o dono do enorme tesouro. Morreu.
Moral da história:
O achismo é cego e, por isso, não vê as pedras que estão pelo caminho


Grandes trocas


Em uma fazenda invejável morava uma senhora, chamada Prudência, que vivia solitária. Ao longo de sua vida, ela plantou maravilhosas árvores, cultivou diversos tipos de alimentos e construiu, com muito esforço, uma enorme casa.
Entretanto, dentre todas essas conquistas, a que ela mais gostava de relembrar eram os animais. Durante sua infância e juventude, a corajosa mulher dedicou-se a caçar animais selvagens e a dominá-los. Hoje, como já era bem idosa, possuía uma extraordinária coleção de bichos de diferentes espécies e tamanhos.
Todas as manhãs Prudência visitava o estábulo, onde estava o belíssimo cavalo chamado Prosperidade, que pertencia a uma raça de eqüinos selvagens. Tinha muito orgulho de olhar para Prosperidade e ter certeza de que o animal estava, agora, sobre seu total controle.
Ao lado, havia uma grande gaiola, que mantinha em cárcere um cachorro admirável, o pêlo era longo e pintado, os olhos que eram ferozes, deram lugar para uma mansa expressão. Esse era o Sucesso, um cão que viveu durante muito tempo no mato, longe de qualquer sinal de gente e agora se encontrava cercado por intransponíveis grades metálicas. Todavia, prender esse violento animal não foi tarefa fácil, por causa dele sua mão direita havia sido cortada profundamente, sem nenhuma piedade.
Esses eram os seus preferidos, mas por lá havia outros seres: o coelho Realização, a águia Ambição e o peixe Saudade.
Contudo, mesmo tendo todos esses diversificados bichos ainda faltava um. A gata selvagem que ela nunca conseguiu apanhar, ela era sempre tão veloz, ficava pouco tempo no mesmo lugar e não se prendia a nada. A velha mulher não conseguia entender, porque não conseguia agarrar aquela inofensiva gata, que parecia mais uma bola de pêlo de tão pequena.
Certo dia, a incansável senhora resolveu sair à procura da felina. Deu voltas e voltas por toda propriedade e nada. Até que viu o pequeno amontoado de pelos atravessar o enorme matagal. Felicíssima a mulher avançou, correu o mais rápido que podia pelo emaranhado de grandes matos. Então, cansada, parou e respirou fundo e, também, se deu conta de que estava em um vasto campo, que não possuía nenhuma folha se quer.
Nesse exato momento, um homem de aparência medonha aproximava-se com a gatinha em seus sujos e enrugados braços. Esperando receber o bicho em suas mãos a mulher estendeu a mão, porém o homem sorriu e disse:
- Essa gata pertence a mim.
Indignada a mimada velha exaltou-se, dizendo:
Dê-me a gata, dou-lhe tudo o que quiser, sou dona de grandes propriedades e de belos animais.
Satisfeito com a proposta o rabugento senhor pronunciou sem nenhuma consideração a seguinte frase:
- Quero todos os seus animais, todos. Em troca dou-lhe o bichano.
Temerosa, mas radiante com a possibilidade de conquistar seu maior desafio, ela balançou a cabeça em sinal positivo e falou:
-Meu nome é Prudência, minha fazenda fica após esse matagal, o senhor pode pegar tudo o que quiser. Desde que me dê a gata!
O velho entregou a gata vagarosamente e ao mesmo tempo pronunciou, em um breve sussurro:
- O nome dela é Felicidade, cuide com muito carinho.
As palavras dele lhe davam arrepio. Ela pegou a gatinha e seguiu até o lago que ficava mais a frente e sentou-se.
O velho medonho foi afastando-se aos poucos, ao chegar ao sítio ele apoderou-se da Ambição, da Saudade, da Realização, do Sucesso e da Prosperidade e sem pegar mais nada foi embora, arrastando-se.
Contente, Prudência ficou sentada perto do lago, quietinha brincando com a dócil Felicidade. De repente, um jovem com profundas olheiras aproximou-se e abordou a.
- Ei! Era você que estava conversando com aquele abominável
-Sim, era eu! Mas não o conheço. Nem ao menos sei seu nome.
-Medo, o nome dele é Medo. Ele é um velho comerciante. Anos atrás eu troquei com ele essa gatinha, a Felicidade, por um passarinho o Efêmero, que depois foi embora. Hoje não tenho mais nada, só essa pombinha, a Tristeza, que ninguém quer trocar, por nada nesse mundo. O que você deu a ele para conseguir a gata?
-Entreguei o coelho Realização, a águia Ambição, o peixe Saudade, o cachorro Sucesso e o cavalo Prosperidade.
-Então o Medo passou a possuir a Realização, a Ambição, a Saudade, o Sucesso e a Prosperidade. Vai ser bem difícil conseguir tirar tanto dele. Mas você trocou tanto por apenas uma?
-Achei que valeu a pena. Afinal, mesmo tendo tudo o que tinha, ainda sentia que faltava alguma coisa para completar-me. Agora, finalmente, encontrei. Valeu a pena
O rapaz ergueu-se e com todo seu pesar foi indo embora. Prudência levantou-se e perguntou a ele qual era o seu nome.
- Meu nome é Covarde.
Ela tirou do bolso de seu vestido um inseto de cor verde e entregou ao moço, que espantado questionou
- O que é isso?
-A única coisa que o Medo não levou. Chama-se Esperança, deve ajudar você em alguma coisa
-Ele sorriu e foi embora
Com tudo isso que acabara de ocorrer Prudência chegou a conclusão de que a vida não era feita de conquistas e sim de trocas. A vida é, na verdade, um conjunto de grandes trocas, quem não é feliz é porque certamente não soube trocar.




“Brasil Animado”, filme produzido por Mariana Caltabiano, é o primeiro longa-metragem do Brasil com captação e exibição em terceira dimensão (3D), mesma tecnologia utilizada em “Avatar”, de James Cameron, a maior bilheteria da história do cinema mundial. A história mostra os personagens Stress, um empresário sovina que só pensa em lucros, e Relax, um diretor de cinema que só pensa em curtição.
Amigos há muito anos, Relax sempre convence o pão duro Stress a investir em seus projetos sem pé nem cabeça. A mais nova aventura do preguiçoso cineasta é procurar a árvore mais antiga do Brasil, o “Grande Jequitibá Rosa”. Mas há um problema: os dois não fazem a menor ideia de onde a árvore está, nem mesmo a cidade ou o estado, o que leva ambos a uma “procurazinha” por todo o País, não sabendo nem mesmo por onde começar.
Misturando personagens e cenários reais com desenho animado, Mariana Caltabiano, que já faz muito sucesso entre a criançada com seus fantoches no melhor estilo “Muppet Show” com temperos brasileiros, mostra importantes pontos turísticos do Brasil em terceira dimensão, com o público usando os já famosos óculos especiais que viraram mania no mundo inteiro.

A velha e o garrafão

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Era uma vez uma velha tão sovina, tão avarenta, tão unhas-de-fome que nem a roupa lavava em condições para não gastar tanto sabão.
O dinheiro que lhe vinha parar às mãos dificilmente conhecia bolsos novos ou carteiras velhas.
Ficava eternamente dentro daquela casa que tinha as janelas fechadas para que o Sol não gastasse a cor da pintura das paredes.
E, para não cair em tentações, adivinhem onde ela metia o dinheiro!? Exactamente! Dentro de um garrafão.
Assim já não havia problemas. Porque, para tirar as notas, era preciso partir o garrafão.
Hum… Era o que faltava! Um garrafão custa uma fortuna! - Dizia ela.
E lá ia metendo notas e mais notas dentro do garrafão.
Um dia, pela tardinha, a velha viu um bichinho escuro, de orelhas levantadas e com rabo comprido a passar no corredor de sua casa.
Um rato? Mas é um rato?!... Ui, que medo! - Gritou ela, cheia de susto.
O rato desapareceu, o susto passou e a velha ainda um bocado assustada com aquilo tudo pensou: - Tenho de arranjar um gato esfomeado! É isso mesmo! Com um gato em casa os ratos desaparecem num instantinho!
Estava quase decidida a ir arranjar um gato. Mas depois voltou a pensar: - Um gato dá muita despesa! Só em leite é uma fortuna… Era o que faltava!
E não arranjou o gato.
Os dias passaram.
Os ratos aumentaram.
E uma manhã a velha começou a gritar com as mãos na cabeça:
- Fui roubada! Fui roubada!
Mas não. Os ratos só tinham transformado as notas em pedacinhos de papel.

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de: António Mota

O DECLINIO DA CONDESA.

“O ambicioso não possui os seus bens – os bens é que o possuem.”

FRANCIS BACON
Eis, finalmente, a última história da minha infância, que considero verdadeiramente a jóia da coroa de todas as outras aqui registadas, que me fizeram sentir na pele e na alma a indecorosa e desprezível sovinice de um adulto. E, se para mim esta é a mais emblemática de todas, é porque ela carrega em si a dolorosa evidência, que por ser uma menina pobre, ainda que nascida no seio de uma família muito honesta e íntegra, não inspirava os enaltecedores sentimentos de carinho e protecção, que seriam normais e desejáveis num caso destes, em vez disso, antes despertava naquela senhora tão fraca de espírito, o mais profundo sentimento de desconsideração e menosprezo.
Uma vez por outra, a somítica senhora chamava-me a sua casa para que a ajudasse na tarefa de fazer bolos, coisa a que não me fazia rogada, já que bolos sempre serão bolos, de mais a mais até os vapores que se escapavam do forno já me eram largamente reconfortantes! As minhas incumbências resumiam-se tão-só em levantar as claras em castelo, empreitada que desempenhava com apurado fervor ou não fosse eu uma criança com assomos de impetuosa genica. Entretanto, numa enorme tigela, a senhora envolvia os necessários ingredientes que consistiriam na massa que iria ser distribuída por diversas formas: Uma forma em formato redondo com buraco ao centro, várias pequenas formas para queques e um tabuleiro rectangular, o qual serviria para confeccionar uma torta, que seria recheada com um doce ou geleia. E tal como vinha sendo habitual, dentro da grande tigela e envolta pela massa, cirandava uma comprida e enrolada casca de limão, que desde o início me estava prometida, pois fazia parte da recompensa pela minha disponibilidade e esforço.
Chegada a hora de encher as formas com a massa, aquela senhora pegava na casca de limão, dava-lhe uma sacudidela e entregava-ma para que me comprazesse a lambê-la. E eu lambia! Lambia aquela casca de limão até ela me começar a amargar! Entretanto passava-me para as mãos a colossal tigela, para que eu com o dedito que de imediato lambia, acabasse de rapar os bem parcos resquícios de massa que, porventura, ainda jaziam agarrados à tigela, já que antes a sovina lhe havia passado a espátula de borracha, mais conhecida por salazar.
Depois dos bolos cozidos, a avarenta mulher desenformava a torta e aparava-lhe as partes queimadas, que logo me dava para que as comesse. E eu comia! Tão criança que era, que nem me apercebia que estava a ser tratada com a mesma displicência com que se lida com um caixote de lixo. Eu era uma menina pobre, por conseguinte, para mim qualquer coisa servia. Se vistas bem as coisas, eu não andava ali enganada, pois sabia que dificilmente me seria dado um bolo, mas tal como se costuma dizer, a esperança é sempre a última a morrer, fui mantendo, por isso, a continuada expectativa de que aquela mulher pudesse, pelo menos uma vez por engano, soçobrar a um fugaz momento de fraqueza e dar-me um apetecido bolo.
Em vez disso, preparava uns pratinhos com alguns queques que me fazia levar às “senhoras”, suas inquilinas de um prédio ali perto, que constituía parte dos seus muitos bens. E lá ia a pobre criança, sujeita à tortura chinesa de ter de transportar para os outros os cheirosos bolos, mesmo ali por debaixo dos queixos! Contudo, sei com toda a certeza, que aquelas pessoas a quem levava os bolos mos teriam dado para eu mesma saborear, se tivessem desconfiado da maldade de que estava a ser vítima.
Mas, tempos houve, em que esta senhora também veio a provar do mesmo fel que tão prodigamente me serviu. Anos mais tarde e já viúva, provavelmente com medo de morrer à fome, tomou providências para aumentar as rendas dos seus inquilinos, argumentando que estas estavam muito baixas, pois não haviam sido alvo dos aumentos considerados justos. Os inquilinos, conhecendo-lhe sobejamente a avareza, e tendo em conta que nem sequer tinha filhos a quem deixar os bens, decidiram que lhe haviam de fazer este troço duro de roer, pelo que lhe fizeram saber que sim, que concordariam com o aumento desde que lhes fossem pagas todas as obras que cada um deles foi fazendo, um pouco à medida das necessidades. Foi com visível contrariedade, que esta senhora teve de dar o dito por não dito, visto que seriam necessários vários anos para recuperar o dinheiro investido na obras de conservação e melhorias levadas a cabo pelos inquilinos, além de outras que, entretanto, estes já se haviam encarregado de exigir. Mas o verdadeiro desprezo sentido por todos aqueles a quem tanto bajulou, teve a sua expressão máxima através da reacção de um dos seus mais jovens rendeiros, quando uma vez, ao terem-lhe dito que a sovina, sua senhoria, havia sido atropelada por um carro, que com uma “pantufada” a atirou ao ar partindo-lhe um pulso, disse desdenhoso:
E nem ao menos foram capazes de matar aquele ca&$lho!…